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GILBERTO FREIRE DE MELO
na sua prole a qualidade excepcional de reprodução da
espécie. Antônio dos Santos, o primeiro da relação, se
aproximava muito bem da arte de escrever de seu pai,
porém desaparecida a caneta-tinteiro, tomou-se difícil
maior aproximação da semelhança.
Nas escolas da época de Zé dos Santos, havia um
livro, chamado Poliógrafo, que o professor apresentava
ao aluno no primeiro dia de aula, para que escolhesse o
tipo de caligrafia que pretendia adotar e se dedicasse ao
formato escolhido, enquanto ali estivesse, para
usá-lo
durante sua vida. Esses critérios foram aplicados no
ensino fundamental, apresentando resultados em outras
personalidades José Rosário que foi secretário da Pre-
feitura Municipal e exibia qualidades de calígrafo idên-
ticas às de Zé dos Santos.
Viúvo, José dos Santos se casou com uma irmã
da falecida D
. Salvina, chamada Ana, a quem todos os
parentes chamavam Tia Ana, e os conhecidos a tratavam
por Donana, que, para não variar, incorporou também o
dote herdado de seu pai aos haveres de Zé dos Santos.
Não houve filhos desse segundo matrimônio e comen-
tava-se no vilarejo que José dos Santos se casara com
a cunhada, para salvaguardar conceitos de conduta,
achando que não ficava muito bem conviver, sob o
mesmo teto, com uma donzela que cuidava da casa, da
família, dos interesses do seu cunhado, sem evitar que
as más línguas existentes debaixo do céu censurassem
aquela convivência
. Principalmente, tratando-se de um
garanhão respeitável, de reconhecidas investi das onde
houvesse um rabo-de-saia, que não deixava de assediar.
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ÁLTO DO RODRIGUES
E, apenas para evitar comentários, algum tipo de censura
e alimentar a maledicência habitual, Seu José casou-se
com a cunhada, acumulando outras cem braças de terra,
sem deixar filhos desse segundo consórcio.
Muito cedo, Seu José dos Santos construiu, em
frente a sua residência, conservando-o sob proteção de
amurada, no Alto Alegre
, o seu jazigo perpétuo, onde foi
sepultado, em 24.06.55, posteriormente transformado
em capela, cujo padroeiro é São Francisco, devotado
pelos familiares.
DOUTOR lliLDSON
Chamava-se HILDSON RODRlGUES CACHO,
filho de Antônio de Castro Cacho e de Rosa Rodri-
gues Cacho, conhecida por Senhorinha que era filha
do patriarca Joaquim Rodrigues F erreira. Nasceu na
cidade de Macau, deste Estado, aos 21 de outubro de
1913, e faleceu, na cidade de Alto do Rodrigues, aos
28 de novembro de 1972, com 59 anos de idade, ainda
em pleno vigor físico e mental,. Tinha formação escolar




Dr. Hildson Rodrigues Cacho, a
quem se deve a implantação do
ensino através de
métodos modernos.



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superior à da sua comunidade, existente até então, Isso
quer dizer que estudara fora adquirindo grau superior,
com título de engenheiro agrônomo, da Faculdade de
Agronomia de Areia-PB, hoje Universidade Federal da
Paraíba.
Manteve, por sua conta, escola particular para rapa-
zes, ministrando conhecimentos didático-pedagógicos e
gerais, na década de 40
, de que participaram jovens da
região, inclusive de Pendências e de Camaubais, rela-
cionados a seguir:
- Álvaro Femandes Freire, de Bamburral, mas da
parte que coube a Pendências
, ainda entre nós.
- Carlinhos Rodrigues, conhecido por Carrinho,
filho de Álvaro Rodrigues.
- Abelardo Rodrigues, irmão de Carrinho.
- José Luiz de França, conhecido por Zezinho
Rosa.
- Antônio dos Santos, filho de José dos Santos
Anjos.
- João Seixas, de Alto do Rodrigues.
- Chico de Nair, de Camaubais.
- Claudionor Bezerra da Rocha, irmão do poeta
João Galo, do outro lado do rio.
- Inácio Bezerra, filho de Fani Bezerra, do Saco,
município de Camaubais. Fani é aquele que foi preso,
com Chico Queiroz, em 1935, por emprestarem seus ter-
reiros, no Saco, para um comício socialista de Manoel
Torquato.
- José Tomaz, filho de João Tomaz da Silva, de
Pendências.
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ALTO DO RODRIGUES
- Francisco Dias de Andrade, conhecido por Santos
de Zé Dias.
- Luiz Roque de Souza, filho de Tomé Roque de
Souza, de Pendência de Cima.
- Ornar Rodrigues F erreira, ainda entre nós, filho
de Chico Rodrigues.
- Dedé de Chico Rodrigues, também filho de Chico
Rodrigues.
Essa escola, no início, recebia matrículas exclusi-
vamente masculinas. Seu desenvolvimento mais cultu-
ral que didático, como já foi dito, obrigou-o a admitir
moças da região, até porque suas encenações teatrais,
exigiam a presença de ambos os sexos, como passare-
mos a ver adiante.
Então, Dr. Hildson,já contaminado de conhecimen-
tos de cultura e de informações de outros horizontes,
tentava dar aos seus alunos notícias do que se passava
além das fronteiras limitadas daquela população.
Ensinando mais cultura que o próprio bê-a-bá,
Dr. Hildson enveredava por técnicas de convivência
social, pelas artes e, encenando peças de teatro e musi-
cais, despertava nos alunos o interesse por artes cênicas,
jograis, declamações e cânticos, aproveitando o poten-
cial inexplorado daquela juventude que despontava, e
que assimilando as lições, desenvolvia as mais difíceis
interpretações que lhe fossem ministradas, mesmo as
improvisadas, numa adaptação fácil e rápida, apesar do
desconhecimento e das imitações que não conheciam
nem por notícias da imprensa, numa época em que a
maioria das limitadas comunicações se fazia através dos
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GILBERTO FREIRE DE MELO
carros-de-bois, embora o caminhão de Álvaro Rodri-
gues já transportasse algumas informações de Macau e
Pendências para Alto do Rodrigues, que se transmitiam
de boca em boca e se alteravam ao prazer dos c o muni -
cadores orais.
Há ainda quem se lembre de encenações teatrais
na escola de Dr. Hildson, quando já eram admitidos
jovens de ambos os sexos
, da própria e das comunidades
vizinhas
.
Numa dessas encenações, há quem se lembre de um
jogral adaptado de Luar de Sertão, a mais bela canção de
Catulo da Paixão Cearense
. Eram personagens, dentre
outros:
- Álvaro Freire
- José Tomaz
- Inácio de Fani
- Claudionor Galo
- Santos de Zé Dias (Francisco Dias de Andrade)
- Maria Cavalcanti ou Maria de Todó
- Raimunda de Quintina
- Inês de Pedro Gago
- Maria de Álvaro Rodrigues
- Inês de Pedro Gago, assim conhecida por ser filha
de Pedro Lalau, que não superara algumas dificuldades
fonológicas, escolhida para interpretar uma das valsas
mais significativas do nosso tempo, dava um verdadeiro
espetáculo
, ao se apresentar cantando "Célia", de Attilio
Grany e Raul Torres, salvo escorrego aqui da caixa de
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