Pesquisar

memorias do Alto pag.106a112


GILBERTO FREIRE DE MELO
com Frei Damião, quando, ao confessar-se (ainda era
ao pé do ouvido, no confessionário) e, questionado pelo
carinhoso capuchinho sobre seus descontroles na mesa
de jogo, afastou o rosto do confessionário e, selando-se
para trás, falou para toda a igreja ouvir?
- Tá doido, Frei Damiãol
Eram facetas de Absalão que nem de longe ofen-
diam ou causavam danos morais nem materiais ao
interl ocutor.
Assim, debatendo sobre questões pessoais com
algum de seus amigos, querendo desvalorizar o rival e
lhe desestabilizar os argumentos, apelava para a respon-
sabilidade de terceiros, alegando:
- Bem que diz Chico Baje que você não vale
merda!
Não assumia nem se responsabilizava pela desva-
lorização do interlocutor. Atribuía sempre a outrem a
afirmação.
São fatos registrados comumente nas confabula-
ções de Absalão, quer com seus semelhantes, quer com
autoridades mais graúdas dali ou de outras paragens. Só
que suas tiradas não ofendiam seus interlocutores que
conheciam, através de lances antológicos, o folclórico
Absalão que chegou a ser o segundo Prefeito Constitu-
cional do município de Pendências e deixou uma nume-
rosa e notável descendência, representada por filhos
ilustres, todos escolarizados no patamar do terceiro
grau, como são conhecidos:
- FRANCISCO DE ASSIS MIRANDA
PINHEIRO, bacharel em direito que, herdando a voca-
- 106 -
































ALTO DO RODRIGUES
ção política de seu pai, ocupou cadeira de deputado
na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte,
Superintendente regional da Caixa Econômica Federal,
Secretário Estadual de Tributação (ou de finanças) do
Rio Grande do Norte, por onde passou incólume às cor
-
rupções hoje tão comuns nos cargos políticos;
- ABSALÃO PINHEIRO MAlA FILHO, oftalmo-
logista de currículo brilhante;
- JOSÉ WILSON MlRANDA PINHEIRO, que,
não fosse um falecimento precoce e desesperador, teria
seguido as metas traçadas pelo consórcio de Absalão
e de D
. Alba, a caraubense mais notável que nos foi
apresentada.
- E as professoras IVANOSKA PINHEIRO
QUEIROZ, MARIA VILANI MIRANDA PINHEIRO
BEZERRA
, GUAClRA MlRANDA PINHEIRO
JÁCOME, IARAMIRANDAPINHEIRO MACHADO,
CECÍLIA MlRANDA PINHEIRO CORREIA LIMA
e ALBA DE MlRANDA PINHEIRO ARAÚJO, cujos
currículos ilustrariam qualquer enciclopédia de
celebridades.
GEMINIANO DE AQUI NO SILVA
Situado no Estreito com residência fixa ao lado do
cemitério público e eventual lá na barreira do rio. Fazia
o transporte, em canoa de sua propriedade, de quem pre-
cisasse atravessar o rio em demanda de qualquer de suas
margens, até 1977. Casado com Dona Isabel Rodrigues
da Silva produziu nove filhos dentre os quais Arlindo
- 107-







GILBERTO FREIRE DE MELO
que deixou entre nós José Geraldo e Jailson que nos dá
valiosas contribuições nas áreas de suas atividades
.
PAULO DAMAS.
Paulo Pereira de Araújo, conhecido por Paulo
Damas, era, ao tempo de João Teresa e Chico Eliseu.,
um dos líderes políticos, também vereador
, que fazia,
de sua convivência com os tabatingueiros, um pacto de
solidariedade e de reivindicações
, em qualquer situação,
qualquer que fosse o responsável pela conduta dos desti-
nos do município. Onde houvesse um problema pessoal
ou comunitário
, estava Paulo Damas à frente das ten-
tativas de solução, desprezando os interesses pessoais,
deixando para mais tarde os problemas que não se vin-
culassem ao bem-estar de seus liderados.
ANTÔNIO ZACARIAS DE ARAÚJO
Pertencente à família Zacarias de Araújo, do sítio
Estreito, que produziu outros valores aqui identificados
no capítulo referente aos POETAS, além de Venâncio
Zacarias de Araújo que enveredou pela política sindi-
cal, fundando o Sindicato dos Trabalhadores na Indús-
tria da Extração do Sal de Macau, de que foi seu presi-
dente. Desenvolveu uma liderança que o fez prefeito de
Macau, e fez deputado o seu filho Floriano Bezerra de
Araújo com assento na Assembléia Legislativa do Rio
Grande do Norte por mais de uma vez.
- 108-

































ALTO DO RODRIGUES
Antônio, embora não ficasse atrás de seus irmãos, os
poetas, e de Venâncio, o político, permaneceu no Alto do
Rodrigues, onde se elegeu vereador e vice-prefeito, hon-
rando o nome da família e mantendo sua dignidade pes-
soal, até hoje, firme e forte em seus mais oitenta janeiros.
JOVENTINO LOPES VIEGAS
Chamava-se Joventino Lopes Viegas e viveu até o
final de sua vida em Tabatinga, ali mais perto de Expe-
dito Ferreira, onde criou filhos e netos que legou ao uni-
verso, com capacitação profissional para disputar espa-
ços, inclusive no ramo da medicina, como é o caso de
Dr. Honório Joventino Lopes, conceituado neurologista
em atividade na capital do estado, seu neto, filho de João
J oventino Lopes,
Adotou e manteve o nome de família que herdou
dos Cristãos Novos, aqui aportados através da Serra
do Martins, originários da Espanha, fugindo da "Santa
Inquisição". Era muito comum encontrarmos alguém
com o sobrenome Lopes Viegas, a partir da atual cidade
de Itajá, que, inicialmente, se chamou Itajá dos Lopes,
vizinho de Roça e de Saco, outros povoados que a
autonomia política incorporou a Itajá. A família Lopes
Viegas, posteriormente, foi evitando o registro com o
sobrenome original, vez que os gaiatos, segundo o escri-
tor itajaense João Evangelista Lopes,
- quem sabe, ele
próprio
- começaram a chamar "Lote de Éguas".
Localizamos um seu neto, hoje Dr. Honório, neu-
rologista, clinicando em Natal.
- 109-









GILBERTO FREIRE DE MELO
MANOEL DE DOCA
Era assim conhecido por toda a população, porém
se chamava MANOEL RODRIGUES DE SOUZA,
como fora batizado. Seu ramo era o comércio de peixes
no Mercado Público e nas portas, que comprava nas
praias de Diogo Lopes, Guamaré e vizinhanças, e, com
um cavalo carregado, montava em outro e percorria
parte da Várzea, oferecendo peixes do mar, embalados
em esteiras de palha de camaúba, que, feitos os fardos
,
conduzia-os, para oferecer sempre que surgia um preten-
dente, nos campos e nos mercados urbanos. Prosseguia
seu caminho enquanto tivesse o produto para oferecer
.
Morava na Barraca, aquela que desapareceu.
Conhecemos apenas sua filha Maria que se casou com
Senhorzinho de Zé Dias. Conhecida por Maria Doca, era
dada a festas religiosas, novenas, quermesses e, acaba-
das as funções, retirava os santos e desmontava os alta-
res, que substituía por forrós e pastoris. Aos domingos,
convidava seus conterrâneos e um tocador para as famo-
sas valsas. Não se via nem se ouvia o toque de uma valsa
sequer, porém, essas funções, nas tardes de domingo,
eram conhecidas por "valsas".
JosÉ MIRINDANHA DE LEMOS
Assim batizado e registrado, com o Lemos adqui-
rido de entrelaçamento de seus ascendentes com os
Coringa de Lemos, fartamente distribuídos na Várzea
do Açu. Casou-se com Libânia Carlos Cabral, filha de
---'- 110 -




























ALTO DO RODRIGUES
ldalino Carlos Cabral e de Josefa Rosa Carlos Cabral,
conhecida e carinhosamente tratada por "Tia Zefinha"
ou "Zefinha de ldalino", fixados em Pendência de Cima
.
José Mirindanha e Libânia deixaram os seguintes filhos:
Socorro, Francisca (um homem) e Geralda que demo-
rou a se casar, adquirindo, em romance informal, uma
filha que batizou de Maria Libânia, hoje ambientalista,
que assina o capítulo da formação e origem do municí-
pio de Alto do Rodrigues, numa gratificante contribui-
ção com este relato.
roão MARTINS
Talvez a sua sombra ainda permaneça percorrendo
as estradas de Tabatinga, onde era situado, até Pen-
dências, enquanto não se dava a autonomia de Alto do
Rodrigues. Seu cavalo era do tipo esquipador, aqui iden-
tificado em capítulo especial
. Andava sempre de paletó,
montado num cavalo russo que trotava e esquipava,
levantando a poeira das estradas. Tinha lá seus negócios
com Absalão Pinheiro Maia, aquele do Estreito, e todos
os domingos, por obrigação, passava no Cartório onde
tentava acertar as suas contas com o notário, que era
cheio de "capiloçadas", conforme linguagem do próprio
João Martins. E as contas, se não eram reduzidas, pelo
menos eram adiadas.
Era uma família numerosa com alguns destaques
reconhecidos, dentre os quais podemos citar João Mar-
tins Sobrinho, ou simplesmente João Sobrinho, estabe-
lecido com atividade comercial na cidade de Alto do
- l11 -







GILBERTO FREIRE DE MELO
Rodrigues. Havia um outro sobrinho chamado Arlindo
Martins que participou da Força Expedicionária Bra-
sileira, sendo deslocado para os confins da Itália, de
que sobreviveu e retomando à Tabatinga, utilizava na
boemia o seu soldo de militar da reserva remunerada,
relatando as minúcias e as asperezas com que convi-
veu nos campos de guerra. E chamavam a atenção dos
habitantes as suas escabrosas recordações narradas com
detalhes vividos entre a vida e a morte
, sob constantes
tiroteios, numa época em que as batalhas travadas eram
entre pessoas, indivíduos que talvez nem soubessem as
razões daqueles episódios.
Vivia, portanto, Arlindo Martins entre umas lapa-
das de cachaça e as histórias de suas desventuras numa
guerra, cujas origens desconhecia e não sabia sequer a
serviço de quem se matavam e se morriam
.
Enquanto assim Arlindo vivia, seu tio João Martins
esquipando o seu cavalo, fazia, constantemente, aquele
percurso em busca do encontro com Absalão, o seu
amigo
"capiloceiro", como dizia.
AGOSTINHO FERREIRA
Procedente de Afonso Bezerra, aqui no Rio Grande
do Norte, Agostinho F erreira instalou-se no centro de Alto
do Rodrigues com uma mercea
ria. Casou-se com D. Edite
com quem produziu e criou os seguintes filhos
: Nair, que
se casou com Chicola, e com quem produziu filhos respei
-
táveis, aqui também rastreado, Maria, aquela que adotou
o hábito e a exclusividade do uso do vestido longo, desde
- 112 -